quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Os barões de Alagoas: PAULO JACINTO TENÓRIO - BARÃO DE PALMEIRA DOS INDIOS:

Baronato: Como pouca gente sabe, não custa relembrar que Palmeira dos Índios foi sede de um baronato, no Império dos Bragança. De fato, por decreto imperial de 28 de agosto de 1888, o imperador d. Pedro II concedeu o título de barão de Palmeira dos Índios a Paulo Jacinto Tenório, coronel da Guarda Nacional do Império e grande proprietário rural. (http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/imprimir.php?c=191882 - Edição do dia 12 de November de 2011).
Eram cuidadosamente escolhidos por um conjunto de atos prestados e ascendência nobre familiar. Além disso, a maioria dos galardoados tinham de pagar uma vultosa quantia pela honraria nobiliárquica, mesmo que para seus filhos perpetuarem os títulos. Para ser nobre, segundo a tabela de 2 de abril de 1860, custava, em contos de réis (http://www.geni.com/projects/Nobres-do-Brasil-Imperial/12615):
·         Duque: 2:450$000
·         Marquês: 2:020$000
·         Conde: 1:575$000
·         Visconde: 1:025$000
·         Barão: 750$000
Além desses valores, havia os seguintes custos:
·         Papéis para a petição: 366$000

·         Registro do brasão: 170$000
Paulo Jacinto Tenório
Logo depois da visita do Imperador Dom Pedro II às Alagoas, "choveram" títulos de Barão para os verdadeiros nobres, ricos que colaboraram com essa visita. Os senhores de engenho receberam título de Coronel da Guarda Nacional, enquanto fazendeiros, altos comerciantes, magistrados e outros milionários se transformaram em Barões. Todos se imortalizaram com seus nomes em ruas, avenidas, praças, escolas e outros espaços públicos, além de constarem nos livros de História.
Para a visita do Imperador, era necessário muito dinheiro. E o governo resolveu pedir colaboração aos ricos alagoanos. Foram senhores de engenho, comerciantes e altos fazendeiros. Cada um fez sua doação em dinheiro. De Assembleia (Viçosa), o então capitão José Martins Chaves Ferreira, português e fundador do Engenho Boa Sorte, fez sua doação milionária e como recompensa foi elevado ao posto do coronel da Guarda Nacional. Poderia ter sido Barão de Assembleia, pois o decreto imperial já estava sendo preparado, quando ele morreu em 1879.
Mas antes do Império, quando o Brasil era colônia de Portugal, os nobres eram Alcaides (espécie de prefeito, chefe político), Alferes (honraria militar), coronel, capitão, major, tenente. Recebiam espada, título impresso e se tornavam os verdadeiros mandatários de suas regiões. Cada vila possuía seu alcaide-mor, ou seja a principal autoridade, que fazia o papel de prefeito, vereador e juiz de paz.
As verdadeiras famílias quatrocentonas de Alagoas, aquelas que se fixaram  e criaram raízes, nos séculos XVI e XVII, foram pela ordem: Lins, Holanda, Vasconcelos, Barros Pimentel, Almeida, Marinho Falcão, Fernandes, Albuquerque, Cavalcanti, Melo, Soares, Filgueiras, Martins Ribeiro, Moura Castro, Rocha Dantas, exatamente os donos das primeiras sesmarias (grandes propriedades) onde fundaram engenhos de açúcar, criaram gado e fundaram as vilas de Porto Calvo, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, Santa Luzia da Lagoa do Norte, Penedo e São Miguel dos Campos. Depois foram surgindo outras como os Mendonça, Moreira, Alarcão Ayala, Accioli, Chaves, Chagas, Vasconcellos, Machado, Toledo, Mello, Torres, Malta, Vieira, Rodrigues, Brandão, Carvalho e outras espalhadas já por outras regiões distantes do Litoral e da zona da Mata.
Mas os barões mais famosos foram os de Penedo, Jaraguá e Atalaia, pela ordem. O primeiro, um diplomata que era o embaixador do Brasil na Inglaterra. O segundo, o verdadeiro "Mauá de Alagoas", que construiu a primeira indústria urbana em 1857: a fábrica de tecidos de Fernão Velho e o terceiro, milionário, dono de muitas terras, casado com a sofisticada Ana Luiza Cansanção de Sinimbu, irmã do Visconde de Sinimbu, também diplomata, conselheiro do Império, presidente da Província de Alagoas e brilhante magistrado, formado na Faculdade de Direito de Olinda.  Barão de Vandesment, francês, já chegou às Alagoas com esse título e foi o fundador da Usina Brasileiro. Veja a lista dos Barões de Alagoas:

- Barão de Água Branca: Joaquim Antonio de Siqueira Torres
- Barão de Alagoas (Marechal Deodoro): Severiano Martins da Fonseca
- Barão de Anadia: Manuel Joaquim de Mendonça Castelo Branco
- Barão de Atalaia: Lourenço Cavalcanti de Albuquerque Maranhão
- Barão de Imburi: Manuel da Cunha Lima
- Barão de Jaraguá: José Antonio de Mendonça
- Barão de Jequiá: Manuel Duarte Ferreira Ferro
- Barão de Maceió: Antonio Teixeira da Rocha
- Barão de Murici: Jacinto Paes Moreira de Mendonça
- BARÃO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS: PAULO JACINTO TENÓRIO
- Barão de Penedo: Francisco Inácio de Carvalho Moreira
- Barão de Piaçabuçu: João Machado de Novais Melo
- Barão de Porangaba: José Miguel de Vasconcelos
- Barão de São Miguel: Epaminondas da Rocha Vieira
- Barão de Traipu: Manoel Gomes Ribeiro


Existem preservados os palacetes dos barões de Água Branca, Atalaia, Jaraguá e Penedo. Em Maceió, já como capital da Província, foi construído o palacete do Barão de Atalaia e do de Jaraguá, na Praça da Matriz (atual Dom Pedro II).


Fonte: Alagoas uma má notícia, Jair Pimentel - Livro-reportagem. <http://www.bairrosdemaceio.net/site/index.php?Canal=Removiveis&Id=27>.  

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O "ouro branco" chega ao Sertão!

Até a primeira metade do século XIX, Alagoas já como Província, a economia estava centralizada no Litoral e zona da Mata, com os engenhos de açúcar dominando tudo. A pecuária começava a se expandir, ocupando mais espaços no Baixo São Francisco e Agreste. Mas o Sertão começou a ser povoado e surgiu o algodão, o chamado "ouro branco" que se adaptou a terra árida da caatinga, mas que chovia na época certa. E foram surgindo povoações em toda aquela região, atraída pela nova atividade agrícola.
Em 1857, o Barão de Jaraguá, homem de visão, empreendedor, que vivia em seu palacete de Maceió, mas tinha várias propriedades agrícolas, observando o avanço da atividade algodoeira, decidiu investir na primeira fábrica de tecidos, escolhendo o povoado de Fernão Velho, a poucos quilômetros da capital para dar início a uma atividade que perpetuou-se, expandiu-se em vários pontos do Estado e tendo o algodão como matéria prima abundante, que foi se aproximando do Agreste e zona da Mata.
Os fazendeiros do Sertão e Agreste produziam cada vez mais e instalavam descaroçadores de algodão, uma mini-fábrica da matéria prima principal, que seguia ensacado para Fernão Velho e as novas fábricas que foram surgindo em Maceió, Rio Largo, Pilar, São Miguel dos Campos e Penedo.  Surgia assim a indústria urbana, as vilas operárias e a geração de milhares de empregos. Não eram escravos negros que trabalhavam nessas fábricas e sim, trabalhadores que recebiam casas com toda infra-estrutura para sobreviver com suas famílias e salários dignos.
Em Rio Largo, um povoado que surgiu a partir de um engenho de açúcar, às margens do rio Mundaú, o comendador Tavares Bastos construiu suas duas fábricas de tecidos, sustentando praticamente toda a população, seja direta ou indiretamente, porque o comércio se expandiu. Construiu casas, escolas, hospital, áreas de lazer e toda a infra=estrutura de uma verdadeira cidade industrial. Sua filha Judith, casa com o jovem parabiano Gustavo Paiva, que tornou-se o grande empreendedor de Rio Largo. A cidade nas décadas de 1930/40 virou o símbolo da modernidade. Tinha cinema, teatro, clubes sociais, escolas de alto padrão e hospital.
Em Pilar, o empresário Hilton Pimentel, construiu sua moderna fábrica de tecidos que durou vários anos, transformando-se em cidade industrial, o mesmo ocorrendo com nos Nogueira, em São Miguel dos Campos e no distrito de Saúde, em Maceió, onde também funcionou por vários anos a Fábrica Alexandria, da família Lobo, no bairro do Bom Parto. No alto Sertão, o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, instalou a sua fábrica de linhas e depois de tecidos, dando origem a cidade que depois de sua morte recebeu seu nome, hoje uma das mais importantes do interior alagoano e a Fábrica da Pedra que ele fundou no início do século XX, hoje em poder do Grupo Carlos Lyra, a única do Estado, que mantem uma boa produção de tecidos, inclusive para exportação. 

Durante vários anos Alagoas manteve mais de 10 fábricas de tecidos e dezenas de fábricas de beneficiamento de algodão em Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, Penedo, Paulo Jacinto, Viçosa, São José da Laje e outras cidades, garantindo a matéria prima para as fábricas têxteis. Por mais de um século, o setor foi o segundo mais importante da economia alagoana, perdendo apenas para o açucareiro. Isso foi acabando a partir da década de 1970, com a falência das fábricas e claro, a substituição da atividade algodoeira pela pecuária. 

Fonte: Alagoas uma má notícia, Jair Pimentel - Livro-reportagem. <http://www.bairrosdemaceio.net/site/index.php?Canal=Removiveis&Id=27>.