domingo, 20 de julho de 2014

Um pouco de história - O Baile da Chita

Através de sua aguçada memória e aos 97 anos, Josefa Barbosa Barros (Zefinha Barbosa *13/07/1910 | +11/11/2010) idealizadora do Baile da Chita revelou em entrevista a Joel da Silva Filho, tesouros preciosíssimos sobre a história de nossa Paulo Jacinto que precisam ser divulgados para que a gerações futuras sejam conhecedoras da nossa história, do nosso passado.
Josefa Barbosa Barros (Zefinha Barbosa)
Além da criação do baile, nasceu também a ideia envolvendo a musicalidade da época; adotar uma música, que seria uma espécie de hino do mais tarde famoso baile da chita. A famosa composição de Luiz Gonzaga e seu eterno parceiro musical Humberto Teixeira, tendo por título Propriá foi abraçada por todos.
Os primeiros bailes contou com a animação do Sr. Júlio Vaqueiro; sanfoneiro famoso da região que residia, Quebrangulo. Ele tocou a música Propriá, sendo que está estava em seu apogeu na época. A música foi rebatizada, os idealizadores passaram a chama-la de “Rosinha de Propriá”, que na verdade era somente Propriá. Com tempo começou a ser convidados conjuntos, mais conhecido por orquestras. 

Propriá – Luiz Gonzaga

Tudo que eu tinha deixei lá não trouxe não
Deixei a minha mãe, meu pai e meus irmãos
Deixei o meu roçado plantadinho de feijão
E com a rosinha eu deixei meu coração.

Por isso eu vou voltar pra lá
Não posso mais ficar
Rosinha ficou lá em propriá
Ai, ai, ui, ui
Eu tenho que voltar
Ai, ai, ui, ui
A minha vida ficou lá em propriá.

Depois Josefa Barbosa e seus filhos tiveram a ideia de fazer uma parodia, formando assim um convite a toda corte paulojacintense. E o resultado foi o seguinte:

Senhores todos dancem com satisfação
Pela nossa vitória da emancipação
E com fé em Deus ganhar nosso brasão
Pela liberdade de nossa população

Por isso vou lutar com fé
Não quero mais deixar
Nossa vila tem que cidade passar
Ai, ai, ui, ui
Nós temos que lutar
Ai, ai, ui, ui
As nossas vidas estão aqui nesse lugar

A realização da primeira edição do Baile da Chita ocorreu logo após as festas juninas com a quadrilha da própria Josefa Barbosa, a qual dançava e depois desfilava pelas ruas da vila. A quadrilha era composta por vinte e quatro casais. A festa ficou tão popular que havia tempos que não comportava o grande número de visitantes nos salões dos armazéns da lagense.
Os armazéns foram erguidos por ingleses que deram o nome de Sambra, eles construíram seguindo o modelo arquitetônico europeu, pois estes imaginavam que caia nevasca na região, depois passou a se chamar ALSA – Algodoeira Lagense S/A, mais tarde apenas de Lagenge até os dias atuais. Os armazéns contavam com quatro máquinas e uma para deixar a lã no ponto de comercialização. As maquinas funcionavam a vapor. O algodão era trazidos em carros de boi e no lombo dos burros e ao passar pelo processo de descaroçamento era transportado de trem para outras localidade, sendo o trem o principal meio de transporte e atração para o povo.
 Ainda no primeiro baile, quando este chegou ao meio, se teve um intervalo para que a quadrilha se apresentasse e está era narrada em francês pelo irmão de Josefa Barbosa. Por definição o baile surgiu através da quadrilha, segundo relata a idealizadora. 
Durante os preparativo para tal acontecimento surge de D. Zefinha, outra ideia bem criativa, a de escolher uma jovem bonita e apresentável obedecendo critérios de toda a diretoria e equipe organizadora do evento. Essa deveria angariar fundos para a independência. As candidatas ao título de rainha deveria vender mesas e bilhetes aos fazendeiros e visitantes. A jovem que mais arrecadasse fundo seria eleita a rainha do baile.
A primeira rainha foi Valderez Barros, filha da idealizadora que concorreu com Cecília Barros, filha de José Aurino de Barroas.
A o evento envolvia toda a comunidade, carroceiros levavam palhas de coco para enfeitar o salão, flores e recebiam também o tecido de chita que para dá um toque final a ornamentação local.
A maquiagem das mulheres eram feita com papel vermelho (estilo papel crepom), estas molhavam o papel e aplicavam no rosto e nos lábios, conta Josefa.
A rainha eleita levava em seu peito uma faixa, conta-se que na hora da coroação da rainha uma mulher teria desmaiado de tanta emoção, pela coragem de todos se unirem em busca da emancipação e porquê de fato, o primeiro baile foi um grande acontecimento naquela região.
Ao termino do baile, no dia subsequente todos saiam pelas ruas da cidade cantando a música Propriá e apresentando a comunidade a rainha que levava em seu peito a faixa de forma transversal.
Relata dona Zefinha Barbosa como é conhecida; que estava chovendo muito e a ruas da vila encontrava com muita lama, mas saíram e chegam a padaria do Sr. Panta Leão Porangaba, o mesmo doou dois balaios de pães e todos seguiram em frente cantando e comendo de rua afora, isso as cinco horas da manhã após o termino do baile.
Um fato curioso que levou os paulojacintense a lutar ainda mais pela sua emancipação de Quebrangulo, partiu dos moradores na pessoa do Sr. Dr. Jerônimo ao idealizarem um baile, passando a Paulo Jacinto levar uma rainha, mas a Sr.ª Josefa Barbosa convenceu a equipe do Baile da Chita de não apresentarem nenhuma rainha a este baile, pois este teria como finalidade humilhar os paulojacintenses e que de fato foi, uma vez que no tal baile estava presente várias cortes e em destaque a de Quebrangulo. A rainha quebrangulense estava tão arrumada que possuía ouro e brilhantes na composição de seu traje, demonstrando assim aos moradores o poder sobre vila Paulo Jacinto. O pai da rainha era um senhor muito rico, esse chegando a descer de classe, devido ter gastado muito com a roupa da jovem quebrangulense, e o baile não foi adiante, não obteve sucesso.
Outro momento histórico foi a chegada de Luiz Gonzaga a Paulo Jacinto por convite de José Aurino de Barros, Luiz estava de passagem pela região e ao saber que sua música era referência do baile, em agradecimento a comunidade realizou um baile da cidade já emancipada. Luiz ficou feliz por sua música ser tema do baile e na ocasião apresentou-se no Clube Recreativo Paulojacintese. Quando chegou a estação ferroviária fez uma pequena apresentação. Para nossa cidade foi um acontecimento memorável uma vez que estávamos no auge de nossa emancipação.
Outra informação interessante é que os visitantes que costumavam frequentar a nossa cidade no período da realização desse evento, chegavam de todas as partes através do trem com grande festejo e era a maior atração da época.  
Nosso baile é de fato o símbolo máximo da comunidade paulojacintense, ele foi, e é a marca comercial, política, social e principalmente cultural para toda região, sendo a máxima revelação cultural de maior tradição em nosso Estado, disse Josefa Barbosa Barros.  

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Chita: Cultura e Samba


A Chita foi o tema escolhido pela Escola de Samba Estácio de Sá para o enredo de 2009 e o livro Que Chita Bacana, editado por A CASA museu do objeto brasileiro, foi utilizado como fonte de pesquisa. A chita reaparece no desfile da Estácio de Sá como um autêntico exemplo da cultura brasileira. Fazem parte os figurinos do Chacrinha, Bumba-meu-boi, Rei do Maracatu e Baiana, entre outros.  A Escola, desfilou na Marques de Sapucaí, o enredo " Que Chita Bacana " que foi desenvolvido pelo carnavalesco Cid Carvalho. A escola ficou na 5º colocação com 238,1 pontos.

Samba Enredo: Que Chita Bacana
Compositores: Osmar, Antonio da Conceição, Magu, Marcelo Buda, Neneu, Hugo Bruno e Lucio Moraes

Sou a Chita Bacana a brilhar
No batuque da Estácio de Sá

Sou o samba raiz felicidade
Na força da Comunidade


Sou bonita e faceira nasci na Índia
Para o mundo conquistar
Deserto atravessei
Cruzei as ondas do mar
Na epopéia uma viagem fascinante
Na Europa deslumbrante então cheguei
No Chá das cinco porcelanas decorei
Através dos portugueses
No Brasil desembarquei

Desbravando esta terra na imensidão
Me pintei com o colorido deste chão
Com a fauna e a flora ergui sua bandeira
Sou a Chita Brasileira


Com fé cultivei a esperança
Num sorriso de criança
O palhaço colori
Vesti cortejo do Maracatu
Dancei em quadrilhas de São João
Na Festa do Divino minha devoção
O movimento Hippie representei
Com o Velho Guerreiro buzinei
Na Tropicália fui a sensação
Conquistei de vez esta nação

Alguns Figurinos do Desfile da G.R.E.S. Estácio De Sá






Exposição: Que Chita Bacana, O Enredo. Foto: Gustavo Ribeiro – A Casa.

Exposição: Que Chita Bacana, O Enredo. Foto: Gustavo Ribeiro – A Casa.

Exposição: Que Chita Bacana, O Enredo. Foto: Gustavo Ribeiro – A Casa.







Fonte: A CASA museu do objeto brasileiro.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Chita - Um Tecido Bem Brasileiro

A chita é um tecido de algodão com estampas de cores fortes, geralmente florais, e tramas simples. A estamparia é feita sobre o tecido conhecido como morim. Uma estampa característica de chita sobre outro suporte que não seja morim não é chita.
As características principais são: cores primárias e secundárias em massas chapadas que cobrem totalmente a trama, tons vivos, grafite delineando os desenhos, e a predominância de uma cor. As cores intensas servem, não só para embelezar o tecido, mas também para disfarçar suas irregularidades, como eventuais aberturas e imperfeições.
O nome chita vem do sânscrito chintz, e surgiu na Índia medieval e conquistou os europeus, antes de se popularizar no Brasil.
Outrora conhecido como “pano do povo” ou popular, o pano dos escravos passou pela literatura, artes cênicas (cinema, novela e teatro), artes plásticas, vestiu movimentos culturais como o tropicalismo, se tornou diferencial alternativo nos costumes contemporâneos na moda de vestir e de decorar, e hoje pode ser encontrado tanto vestindo e colorindo as festas populares do mais remoto interior brasileiro bem como os ambientes considerados mais modernos e sofisticados.
Surgiu na Índia Medieval e, após a colonização desta pela Inglaterra, foi comercializada intensamente, invadiu e conquistou a Europa.

História da chita no Brasil

Algumas imposições retardaram o desenvolvimento industrial e a produção de chitas brasileiras, como exemplo a decisão tomada pela rainha Dona Maria I, a louca, em 1785, proibindo qualquer tipo de manufatura no Brasil e ordenando que todos os teares fossem levados a Portugal. Em 1808, a partir da chegada do príncipe regente Dom João ao Rio de Janeiro, a estamparia em tecido começou a se desenvolver, ao revogar o alvará de sua mãe e autorizar as atividades manufatureiras.
As vestimentas inglesas chegaram ao Brasil mesmo sem pertencer ao nosso clima tropical, ou seja, roupas pesadas para as pessoas mais nobres usarem; já os algodões crus e estampados - a chita - eram as roupas do povo.
Apesar de haver ainda uma grande concorrência entre os tecidos vindos da Inglaterra e da Índia houve um crescimento manufatureiro no Brasil. No início do século XIX já existiam no Brasil chitarias. O Colégio das Fábricas é um exemplo. Inicialmente com um núcleo de artesões, oficializado como Casa do Antigo Guindaste, onde fabricavam cartas para jogar e estamparia de Chitas ambas produzidas através da gravura. A primeira grande fábrica de Chitas do Brasil nasceu em 1872 em Curvelo, Minas Gerais, a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira, a qual, porém, parou sua produção de Chitas em 1973. Em 1889 inaugurou a fábrica Bangu no Rio de Janeiro com maquinário britânico.
De todas as regiões brasileiras apenas o sul do país não produziu Chita na história têxtil voltando-se sempre à malharia, lã e tecidos sintéticos.
A chita veio para o Brasil com os europeus a partir de 1800. O tecido originário da Índia passou por várias melhorias até chegar ao que temos hoje. Após um longo processo burocrático, cultural e financeiro, a chita passou a ser produzida também no Brasil. A produção do tecido no país o barateou, e muito, tornando populares as peças confeccionadas com o material, transformando-o, assim, em um dos ícones da identidade nacional.
 Atualmente vem sendo valorizado também na decoração, principalmente como referência estética. De tempos em tempos, ganha espaço em passarelas, galerias de arte, vitrines e palcos, quando estilistas, artistas plásticos, designers e outros criadores redescobrem estas estampas e as incorporam a suas produções.

O Século das Chitas

Até o final dos anos do século XX, a manufatura têxtil de algodão absorvia 40% do nosso capital e 23% de toda a nossa mão-de-obra empregada em nossa indústria. A estamparia ia a pleno vapor no ano de 1885 e as chitas já eram fabricadas em larga escala em grandes empresas.
Algodão
Em 1887 foi fundada a Companhia Fabril Mascarenhas. Começava ali a trajetória de uma empresa que não cresceria muito, mas que começaria a produzir a chita nos anos 70 e o chitão na década seguinte, mantendo essa produção em plena atividade até os dias de hoje, sob o comando do neto do coronel Mascarenhas, José Henrique Mascarenhas.
Companhia Frabril Mascarenhas
A Primeira Guerra Mundial teria efeito benéfico sobre a produção brasileira. Os países europeus tiveram suas produções manufaturadas suspensas e se dedicaram à produção de armas. Logo, o Brasil começou a tomar lugar de destaque no comércio internacional de produtos manufaturados.
De 1931 a 1938 a produção nacional de tecidos de algodão cresceu em cerca de 50%, alcançando os 963.757.666 metros anuais. É desse período a fundação da Fiação e Tecelagem São José, em Mariana, Minas Gerais. Nela começou a produção de chita e a gestação do chitão.
Funcionários da Fiação e Tecelage São José

Em 1944 era aberta em Contagem, cidade na região metropolitana de Belo Horizonte, a Estamparia S.A., que é uma das poucas empresas que ainda produz chita, mas apenas 100 mil a 150 mil metros por mês, o que corresponde a 5% de sua produção mensal de tecidos.
Com o fim da guerra, a chita continuava vestindo os trabalhadores braçais e os moradores das regiões rurais, e era, e ainda é, o pano característico das festas populares.
Também era usada nas periferias urbanas. Era a vestimenta do dia-a-dia ou a chamada roupa de brincar das crianças.

Como surgiu o Chitão

As revistas femininas da época ditavam a moda, vinda de Paris e ensinavam o comportamento feminino ideal: o de submissa rainha do lar.
A drástica virada de mesa dos anos 60 ainda estava por vir, para mudar os rumos de lares, mulheres, rainhas, moda e usos da chita.
A Fábrica de Tecidos Bangu deixara de produzir chita para pesquisar, desenvolver e produzir tecidos de qualidade à altura do mercado internacional, usando principalmente o algodão como matéria-prima. Encerraria, assim, sua função inicial de grande produtora de morins e chitas. Até o encerramento de suas atividades, existia na sede da fábrica, no Rio de Janeiro, a chamada Sala das Chitas.
Ao final da década de 50 a Fiação e tecelagem São José começou a produzir chitas com larguras maiores, pois até então eram produzidas com 60 cm ou 90 cm de largura em função da largura dos teares. Buscando alternativas a esta limitação, foram cortados dois teares de 90 cm para fazer um de 1,20 m a fim de tecer peças mais largas. A essa nova chita, mais larga, deu-se o nome de chitão, que “só deu certo e foi divulgado na década de 1960, quando todo mundo começou a fazer também”, recorda-se Oziris Cimino, diretor comercial da Fiação e Tecelagem São José.
Chitão

A Fabril Mascarenhas chegou a ter 150 estampas diferentes de Chitão, porém hoje possui em média oito estampas, tendo uma variada cartela de cores.
Apesar de o náilon ter conquistado o mundo, a Chita continuava vestindo os trabalhadores e moradores das regiões rurais; era o pano das crianças brincarem e a decoração das festas populares. Hoje , o que caracteriza o chitão são as dimensões e  as cores de suas estampas florais. Se alguém fizer essa estampa sobre outro suporte que não seja morim , certamente a referência do novo tecido será “estampa de chitão”, ou seja Chitão - tecido com características de suas cores vibrantes e suas formas florais exageradas.

A Chita: Do Popular Para A Moda

No Brasil atual, não se pode falar nas estampas sem se falar em chita. E não se pode falar em chita sem falar em povo. A chita nasceu pano popular. Vestiu populações carentes, escravos. Era o paninho barato, de fácil acesso ao povo. Cresceu, apareceu se espalhou e se transformou “na cara do Brasil”.
As roupas de Chitão já foram característica do movimento hippie, identificando-se com o poder dos jovens, flower power, o feminismo, black power, paz e amor, o psicodelismo, as mudanças radicais. As repressões militares estagnaram o setor têxtil, fechando 130 tecelagens em três anos; enquanto isso os norte-americanos criavam tecidos com fibras sintéticas que não amassavam. Criou-se então no Brasil o GEITEX - Grupo Executivo da Indústria Têxtil - que estabeleceu metas para corrigir a situação e conseguiu o apoio do governo às empresas para a fabricação de morim, chita estampada e outros nove tipos de tecidos (MELÃO; IMBROISI e KUBRUSLY, (2005).
As Chitas vestiram personagens de novelas como é o caso de Gabriela de Jorge Amado, o apresentador Chacrinha e foram usadas pela estilista Zuzu Angel; também vestiram Gilberto Gil, Caetano Veloso, passando a ser uma assinatura da alma brasileira durante a repressão.
FARM, Coleção Verão 2010 e Sommer, Coleção Verão 2008.
No Brasil, depois de séculos vestindo trabalhadores braçais, moradores de zonas rurais, meninas das festas de interior, entre outros, a chita fez parte do movimento hippie e foi parar nas passarelas internacionais. Zuzu Angel (1923-1976), estilista brasileira vítima da ditadura militar no país, foi pioneira no uso do tecido em suas ousadas coleções e o levou em uma viagem de volta à Europa, completando assim um círculo de evolução e um retorno às origens. “A chita no corpo e no cenário dos movimentos artísticos e revolucionários, em plena vitória da repressão, era uma assinatura da alma brasileira, um desafio, quase um descaramento.” (MELLÃO, 2005, p. 127).
Além das roupas, o universo dos acessórios de moda também passou a utilizá-la.
O Tropicalismo nascido na Arte Conceitual de Oiticica (1937-1980) e Clark (1920-1988) e que teve adesão de músicos, cineastas e intelectuais brasileiros, revolucionou a música popular brasileira em 1968, intervindo na cena cultural do país de forma crítica e vestiu-se com a já então brasileiríssima chita. Podemos dizer que o Tropicalismo tornou fato as palavras de Flügel: “[...] que o não conformismo nas roupas tende naturalmente a expressar o não-conformismo em ideias sociais e políticas”. (FLÜGEL, 1966, p. 189).
Os anos 70 trouxeram um enorme colorido e transformações no vestuário, principalmente feminino, sendo uma porta aberta para a entrada e consagração da chita como tecido da mulher brasileira. Na telenovela de 1975 da Rede Globo de Televisão, Gabriela, a pobre, linda e sensual protagonista, vestida de chita, lançou moda e foi imitada por milhares de brasileiras, transformando em moda algo tão próximo da realidade popular, como Mellão nos conta em seu livro: “[...] o vestidinho de chita já era considerado indispensável para a mulher brasileira: básico, simples, fresquinho, ideal para o verão que aquece dois terços deste país durante três terços do ano”. (MELLÃO, 2005, p. 71).
O caminho da chita partindo da moda e migrando para a decoração foi percorrido naturalmente. A mesma chita que vestia os menos favorecidos, camponeses, ex-escravos, já enfeitava as casas modestas do povo brasileiro. Aos poucos foi invadindo casas da cidade como estilo de decoração autêntica, podendo ser encontrada nas cortinas, almofadas, toalhas de mesa, entre outros, talvez como uma maneira de transportar para dentro de casa a exuberância da natureza tão inacessível nas cidades mais desenvolvidas.
Nossas chitas, de puro algodão, sempre muito coloridas e geralmente mostrando motivos florais, podem ser vistas tanto em colchas e cortinas de humildes casebres quanto na decoração de ricas sedes de fazendas ou, ainda, alegrando danças folclóricas e festas juninas. (PEZZOLO, 2007, p.49)
Hoje, o que caracteriza o chitão são as dimensões e as cores de suas estampas florais. Se alguém fizer essa estampa sobre outro suporte que não seja morim, certamente a referência do novo tecido será “estampa de chitão”.

A Chita em Paulo Jacinto

            A chita em Paulo Jacinto deu nome a um baile e foi adotada como tecido mestre de um dos eventos mais conhecido do Estado de Alagoas, o Baile da Chita. O Baile teve sua primeira edição em 1952 e tinha por finalidade angariar fundos para emancipação da Vila.
57ª Festa da Chita
Escolha da próxima rainha.
            A chita era o tecido da época e estava no auge de sua comercialização e os organizadores do baile resolveram tomar o tecido como referência a festa. Todos os participantes e as candidatas ao título de rainha da chita, vestiam roupas com a estampa de Chita, além do tecido fazer parte da ornamentação dos galpões da lagense onde era realizada a festa.
Ornamentação da cidade para festa.
            Atualmente existe um ateliê batizado da “Chita ao Chique” no centro da cidade onde o tecido é utilizado na confecção das mais variadas peças de roupas e acessórios, e como é tradição ainda se usa muito a estampa seja para ir a festa que é realizada no mês de julho e na decoração do espaço festivo.
 
Exposição da confecção com produtos a partir do tecido de chita.
Referencias:  
blog tudojuntoemisturadopaty / dorcasrenascer. 
Brasil vestido de sol - Mariana Binato / Reinilda de Fátima.
O significado da cor na estampa do tecido popular: a chita como estudo de caso - Maria Diaz Rocha / Mônica Queiroz

FABRIL MASCARENHAS - Empresa de tecidos. Disponível em: <http://www.fabril.com.br> Acesso em Outubro de 2009.   
PROGRAMAÇÃO  DA 62ª FESTA DA CHITA - ANO 2014


62º BAILE DA CHITA: ANO 2014 - NÃO TERÁ!!!?

            Pedro Rocha Respondendo a indagação do amigo Ze Barros Ze Barros, e tecendo alguns comentários, por ocasião da "não realização" do Baile da Chita este ano, em Paulo Jacinto-Al.

            Concordo com o amigo Ze Barros. Um evento tradicional como o Baile da Chita, com mais de 60 anos em nossa cidade - Paulo Jacinto - não ser realizado este ano. Nossos pais, como tantos outros conterrâneos foram pioneiros à realização desse evento no início da década de 1950 - que culminou com a independência de Paulo Jacinto da vizinha Quebrangulo.
            Fico triste, como também vários amigos - partícipes - de vários eventos na cidade. Somos acionados - Confraria PJ - quando vislumbra a ideia de não haver o baile. Este ano, mais uma vez fomos chamados - e mesmo não indo ao evento deste ano, caso houvesse, por motivo de viagem - mas, participei da reunião, trocando ideias com o grupo e torcendo à realização do mesmo. 
            As razões a maioria dos paulojacintenses conhece. Uma legião de amigos - apaixonados pela cidade - quando convidado - não se omite em ajudar, mas, as vezes são incompreendidos por alguns, como se fossem filiados ou integrantes de alguma sigla partidária, com interesses políticos à cidade. Ledo engano, onde a maioria gosta das festividades e tem domicílio eleitoral em Maceió. 
            Uma coisa é certa, independente do seguimento político, o Baile é de toda a sociedade paulojacintense. O prefeito tem o dever de ajudar, independente da sigla partidária a que pertença. E o atual gestor buscou todas as maneiras para realizá-lo. Mas, infelizmente, por outros motivos ligados a administração do Clube Social, por ocasião de algumas pendências de ordem física, estrutural e organizacional, o Baile não será realizado este ano. 
            Fico triste como uma legião de amigos que gostaria que o Baile fosse realizado, com ou sem Festa da Chita. Agora é curtir a Festa da Chita, já relacionada na agenda do município, nos dias 18 e 19 de julho/14 - na Praça Josefa - Zefinha - Barbosa Barros (foto). Na programação do evento a inclusão de Bandas com componentes filhos da terra. No mais é torcer para realização do Baile da Chita, em julho de 2015. Afinal tradição é tradição. Oxalá!

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