quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Poder de Saias (1978 a 1982)

Colaboração de pesquisa: Milton Pedro

            Em 22 de março de 1978 em virtude do falecimento do então prefeito Sebastião Barbosa Calado, assume o cargo a sua Companheira de chapa Sra. Maria José Ferreira Fontan, fato, novo, pois não era típico as mulheres representarem esse tipo de função.  
Da esquerda para direita: Elma Canuto, Izabel Costa (Iza), Nize, Grinauria Teixeira, Eloisa Cavalcante (Lola), Mª José Correia Fontan, Nelma Torres Padilha, Grinauria Baborsa, Joana da Silva, Josefa Luíza Pereira (Zefa), Fancisca Correia (Chica Pendão) e Maria Araújo Feitosa (D. Cicera).
            Esse período tronou-se inédito, pois além do Poder Executivo ser ocupado por uma mulher, o Pode Legislativo contava com a Sra. Eloisa Cavalcante Barbosa e o Poder Judiciário com a Dra. Nelma Torres Padilha.
Doutora Nelma Torres Padilha, natural de Viçosa, primeira juíza nomeada no Estado (1976) e depois entrou para historia pela coragem que teve ao enfrentar o crime organizado de Alagoas. Em 1978 foi presidente da (ALMAGIS) Associação Alagoana doa Magistrados, quando também defendeu a Juiz Dr. Jerônimo Roberto dos Santos que estava sendo ameaçado de morte por ter decretado a prisão dos integrantes da “gangue fardada”.
Este período foi de muita repercussão na história de Alagoas, pois o domínio das mulheres transformou a cidade no centro das atenções da imprensa nacional. Uma reportagem publicada num  jornal de Maceió, serviu para atrair jornalistas de todo país aquela cidade. Amplas matérias foram produzidas pelo O Globo, Folha de São Paulo, Correio Brasiliense e as revistas Veja e Isto é, além do programa do Fantástico, da TV Globo. Os jornalistas enchiam as ruas da cidade, para curiosidade da população que era acostumada ao trabalho no campo ou mesmo no comércio de pouca movimentação.
Paulo Jacinto é uma cidade privilegiada de mulheres, pois além dessas três “Xerifes” que comandaram o município, tem a Professora Maria Luiza Torres Barbosa, que em 1971 criou a letra e musica do hino oficial de Paulo Jacinto, além da bandeira do município, pois desde os 12 anos de idade, sem ajuda de professores aprendeu a toca piano e o mesmo aconteceu em relação à pintura. Também a Igreja Nossa Senhora das Graças da cidade foi pintada por ela, além de uma obra de arte Jesus, Maria, José (Sagrada Família), destacando-se por seus dons artísticos.
Outros exemplos de paulojacintese que ocuparam, no mesmo período, cargos importantes: no Cartório a Sra. Nise Costa; no Funrural a Sra. Gerúzia Lima; no Hospital a Dra. Tânia Magalhães; a Dentista a Dra. Elma Canuto, e a Educação estava representada por: Francisca Correia, Maria Izabel Costa, Grinauria Barbosa e Grinauria Teixeira; na Creche Joana da Silva, na Secretaria de Administração a Sra. Maria Araújo Feitosa, entre outras que ajudaram na administração. Em entrevista a Revista Veja (1982: p. 101), a Sra. Maria José Ferreira Fontan diz que ao tornar posse, levou consigo apenas meia dúzia de companheira.   
A Sra. Francisca Correia Barbosa, diretora de ensino de 1º grau, nomeada em 1978, relata em entrevista que o estado parecia paternalista. Afirma que proporcionaram a realização de um bom trabalho na construção da Educação, e que os convênios firmados com o Estado possibilitaram a construção e equipamento das escolas, o aumento na oferta de Vargas e atendimento assistencial dos alunos. Entretanto, considera que hoje as oportunidades são maiores para todos: alunos e professores.
 Outras entrevistas na área da Educação foi Maria Izabel Costa Souza que era diretora da Escola Municipal 2 de Dezembro e Escola Estadual José Correia Fontan, as quais, na década de 70 e 80, trabalhavam no regime tradicionalista, repressor onde o professor tinha uma pratica de transmissor, não dava oportunidade ao aluno de demonstrar os conhecimentos prévios e a metodologia aplicada era a que as coordenadoras de ensino determinavam, sem espaço para diálogo. Destacou que os professores e profissionais de educação eram mal remunerados.
Outra Paulojacintense de destaque é Leureny Barbosa, intérprete alagoana de música popular e bossa nova, que se dedica a divulgar compositores locais. No final da década de 60, foi à cidade do Rio de Janeiro para participar do programa de Flavio Cavalcante na televisão, ocasião em que se sobressaiu pelo desempenho e a belíssima voz, o que orgulho seus conterrâneos. De volta a Alagoas fez inúmeros shows, com muito sucesso. Ainda hoje dedica sua vida à música.
Durante o governo das mulheres foram sancionadas leis que protegiam os direitos, como também foram criados espaços para o atendimento social, médico e cultura a mulher, além do salário família de acordo com a legislação vigente e muitos outros direitos, que foi ate aquele período as mulheres não podiam desfrutar.
Portanto esse período ficou conhecido como “O Poder de Saias” e fez mudar a concepção de muitas pessoas que ainda não acreditavam no potencial das mulheres, sendo um período próspero e de boa governabilidade. (Revista Veja. Poder de Saias: Em Paulo Jacinto mandam as mulheres. 16 de junho, 1982. p. 101). 


A mulher em Paulo Jacinto nos dias Atuais   

            A cidade de Paulo Jacinto, mais tarde, teve outros destaques femininos como à vereadora Maria Araujo Feitosa que foi eleita em 1988 e ficou no cargo até 1996, tendo participação na elaboração da Lei Orgânica do Município; a Sra. Elma Sales Costa, no comando da cidade do ano de 1996 a 2000, além de outras Magistradas na cidade a Dra. Maria Lúcia de Fátima Barbosa Pirauá, dentre outras.
            Paulo Jacinto é uma cidade que teve em sua historia a participação feminina em todos os seguimentos; Juíza, Prefeita, Vereadora, Cantora, Médica, Jornalista etc, podendo-se citar Fátima Almeida que trabalha no Jornal Gazeta de Alagoas, e em uma das reportagens diz; Gazeta de Alagoas (2007: p. C1): “Lutas e conquistas, Mulheres têm dias de homenagens e reivindicações: Durante a semana, as mulheres discutem violência, políticas públicas, direitos e conquistas, além de encaminhamento para implantar a Lei Maria da Penha”. 
            São mulheres batalhadoras como essas que o nosso país precisa que saem de uma pequena cidade do interior e se destacam por seu trabalho em muitas das profissões. (ALMEIDA, Fátima. Mulheres têm dia de homenagens e reivindicações. Gazeta de Alagoas. 08 de março, 2007. p. C1). 

Texto: Milton Pedro